sábado, 30 de janeiro de 2016

Lava Jato: por trás de Moro e da grande mídia se escondem alguns dos 'donos do mundo'

 Sensor publica artigo extraído do site Esquerda Diário


Muitos aspectos da Lava Jato geram suspeitas, a começar pelo juiz Sérgio Moro. Como alguns blogs divulgaram, e este mesmo Esquerda Diário noticiou (veja mais aqui), ele já foi advogado para o PSDB e é vinculado à imperialista Shell. Sua esposa é nada mais nada menos que advogada desta multinacional. Não lhe faltam interesses para enfraquecer a Petrobras e o PT.
Veja, Istoé, Estadão, Folha de São Paulo, Globo e consortes sentam-se em cima das informações e publicam quando lhes convém. Frequentemente articulam uma capa e “matéria exclusiva” de uma delação que já tem mais de um ano e que consta em arquivos online deles mesmos há meses. E, via de regra, filtram os depoimentos somente para atingir o PT. Não temos a menor intenção de defender o PT neste artigo. Não faltam evidências de corrupção como não faltam iniciativas privatizadoras, ataques aos direitos dos trabalhadores. Petistas que fabriquem histórias para dormirem com menos peso na consciência.
Em defesa do PT, seus blogs amigos publicam somente trechos da Lava Jato que atingem Cunha ou Aécio. Num estapafúrdio argumento do seguinte tipo: "olha eles também fazem"... o que não deixa de ser verdade, combina com a percepção geral de que nenhum dos partidos do regime se salva. A Lava Jato escancara os podres poderes da democracia burguesa brasileira, ou como diz o delator e doleiro Youssef em seu depoimento número 2, não há cargo político no país, sobretudo nas estatais, que não envolva estas trocas de favores e dinheiro em todo e qualquer governo, não importa se tucano ou petista. A própria composição dentro dos partidos passa por propinas, como é relatado no caso do arqui-corrupto PP de Maluf e Bolsonaro, onde, segundo Youssef, não há eleição de líder sem envolver uns 4milhões de reais para distribuir ao menos a cerca de 20 deputados.
Na própria mídia burguesa não faltam, para quem procurar, depoimentos e provas contra Aécio, Cunha e outros paladinos do impeachment. A Folha de São Paulo, por exemplo, nunca destacou mas tem em seu site um vídeo onde um dos delatores afirma como Aécio era o político “mais chato para cobrar propinas”. E Youssef tão utilizado pela grande mídia por atingir em alguns depoimentos a Zé Dirceu, Lula, Dilma, tem um depoimento ignoradoonde mostra propinas a Aécio em Furnas.
Para fugir do que a mídia oferece, o que Moro disponibiliza e os pedacinhos de denúncias “generalizantes” do petismo o Esquerda Diário procurou ler todas delações que pode encontrar na Internet e conduzir sua própria “investigação”. Publicamos a seguir alguns dos primeiros resultados de nossa investigação que seguirá e se expressará em outros artigos. Evidentemente a verdade só poderia ser conhecida plenamente a partir de uma comissão independente conduzida por sindicatos, intelectuais, e não das mãos de uma “justiça” comprometida com interesses do imperialismo e da oposição tucana ou do petismo.
Com os resultados desta primeira investigação buscaremos mostrar que não só o que é divulgado atende a interesses como a própria investigação freia onde deveria avançar: escancarar os interesses de alguns dos “donos do mundo” nesta operação.
O que se investiga o que não se investiga na Lava Jato
Toda a investigação se concentra na Petrobras apesar de vultuosas denúncias envolvendo diversas estatais e governos que não do PT, mas inclusive do PSDB. Há um interesse em minar esta empresa ou no mínimo abrir a promissora província do pré-sal ao capital imperialista. As credenciais de Moro apontam neste sentido. O wikileaks já apontava a ligação de Serra e outros tucanos em formular projetos de lei que abririam o pré-sal. A revista especializada em política externa norte-americana a ForeignAffairs criticou extensamente a lei da partilha brasileira que aumenta a renda do Estado nacional sobre o pré-sal e coloca a Petrobras como operadora exclusiva veja mais aqui.
Esta tese é reforçada pelos elementos políticos dos últimos meses quando toda a ênfase nestas leis de entrega dos recursos nacionais sumiu do noticiário. O imperialismo e aqueles que são os mais propensos a servir seus interesses imediatos, os tucanos, parecem satisfeitos com o que a própria Petrobras está fazendo a mando de Dilma. Abrindo mão do pré-sal, preparando-se para uma privatização parcial como ficou claro no anúncio do dia de hoje.
Porém esta ênfase na maior empresa do Brasil e nos recursos que a ela estão confiados não explica toda a operação, por que ela também atinge opositores, porque ela atinge alguns dos maiores bilionários do pais? Como e por que o prestigiado banqueiro bilionário André Esteves foi atingido? Fora algum ingênuo que confie no senso de justiça de um juiz de primeira instância (Moro) ligado à Shell, para desafiar a Odebrecht e o banco BTG Pactual o que não é nosso caso, há de se desconfiar de poderosos interesses por trás da Lava Jato.
Interesses estes que se revelam no que é investigado inclusive dentro da Petrobras e na operação e pode ser observado em algumas delações.
A operação Lava Jato está concentrada em três diretorias da Petrobras, porém são quatro diretorias que movimentam muitos recursos. A mais estratégica ficou blindada.
A Lava Jato revelou extensos esquemas de corrupção na área internacional comandada por Cerveró, indicado pelo PMDB e por Delcídio do Amaral ele mesmo um petista ex-tucano vinculado a esquemas privatistas na Petrobras. Também foram extensas as denúncias envolvendo a diretoria de Engenharia e Serviços que encomendava as obras, esta área era comandada por Renato Duque, ligado ao PT. Como desprendimento destas denúncias todas as maiores empreiteiras nacionais foram atingidas, algumas empreiteiras internacionais que operam no país, citadas e com denúncias comprovadas no esquema como a sueca Skanska (oitava maior do mundo) e a francesa Technip (sexta maior) saíram, até o momento, ilesas. Já a antes intocável Odebrecht (13ª maior do mundo), tem seu presidente detrás das grades.
A terceira área de investigação, a diretoria de Abastecimento, comandada por Paulo Roberto Costa, ligado ao PP, é a diretoria das refinarias e da logística que movimentou importantes esquemas de corrupção nas obras das refinarias, atingindo novamente as empreiteiras, e nos contratos de aluguel e construção de navios.
A mais rentável área da Petrobrás, a de Exploração e Produção, a que opera plataformas, “curiosamente” não tem uma só investigação anunciada, uma só denúncia em nenhuma delação. Como que seria possível que a mais rica das áreas de uma empresa carcomida por interesses políticos e imperialistas em sua cúpula tenha conseguido blindar justamente onde há mais dinheiro?
Não parece que seja o caso mas que justamente esta área tenha sido “blindada” porque os esquemas envolvendo a Petrobras e as empresas terceirizadas nas plataformas são os interesses que a Lava Jato blinda. As terceirizadas das plataformas, as gigantes Halliburton, Schlumberg, Transocean, entre outras são algumas das maiores ganhadoras na operação. Vejamos como.
O gerente dos cem milhões de dólares e os indícios que Moro não quis investigar
Pedro Barusco chocou um país acostumado com a corrupção dos políticos. Tinha cem milhões de dólares para devolver. E ele era somente um gerente geral de serviços. Em um de seus primeiros depoimentos de delação premiada afirma que no esquema de construção de navios-sonda a Petrobras havia ajudado a criar um cartel junto com as empreiteiras, fundos de pensão, o banco BTG Pactual (do André Esteves), Bradesco e Santander que furava um cartel internacional de navios-sonda.
Um cartel que gerava recursos para corrupção e caixa-dois para furar outro só que internacional. Os investigadores não se deram o trabalho de perguntar qual cartel. O Esquerda Diário investigou e descobriu que o mercado de navios-sonda é altamente monopolizado no mundo, todas empresas de petróleo devem recorrer a poucas empresas que detém esta tecnologia e navios para realizar a perfuração (“abertura”, simplificando) dos poços. Elas são em ordem de faturamento: Schlumberg sediada no paraíso fiscal caribenho de Curaçao, a Halliburton do Texas, Baker Hughes do Texas, Fluor do Texas (que por sua vez é também a 12ª maior empreiteira do mundo), a Weatherford da Irlanda, a Saipem da Itáilia, e a Transocean da Suíça.
Um pouco sobre as sondas e uma “genealogia” dos “donos do mundo” na Lava Jato
Antes do estouro da Lava Jato o esquema de corrupção que ganhava o noticiário era da holandesa SBM de FPSOs. OS FPSOs são um tipo de navio que podem incluir sondas (para perfurar) e ao mesmo tempo podem diretamente ficar lá produzindo e armazenando produto. Uma tecnologia que “corre em paralelo” a de navios-sonda primeiro e depois instalação de plataformas permanentes ou FPSOs sem sondas. Os envolvidos da Petrobras no esquema da SBM eram Renato Duque e Barusco, isto consta na quinta delação de Barusco.
Em outra delação de Barusco, a número 8 ele declara que abriu sua conta na Suíça e o esquema iniciou-se em 1997 justamente para receber dinheiro da SBM. Interessados em atingir FHC os sites petistas divulgam como o esquema tinha começado com os tucanos. Contentes com poder mostrar "foi a FHC que criou o PT só continuou", os petistas omitem os poderosos interesses imperialistas que tanto eles como os tucanos beneficiaram e em troca receberam proprinas.
Estourado o esquema da SBM a Petrobras começou a recorrer à contratação de navios-sonda (primeiro o Petrobras 10.000 da Transocean no esquema que envolveu Fernando Baiano e envolveu propina para Cunha como pode ser ver no seguinte vídeo, porém nunca foi investigada...) e posteriormente construção de seus próprios navios-sonda constituindo a empresa Sete Brasil.
A Sete Brasil seria uma empresa administrada pelo BTG Pactual contando com ações de vários dos fundos de pensão das estatais (Funcef, Previ, Petros) e um pouco de capital do Bradesco e Santander. A Sete Brasil tinha a maior encomenda do mundo de navios-sonda, 29. Todos seriam inicialmente alugados para a Petrobras. A empresa então contrataria os estaleiros, onde há extensa participação das empreiteiras brasileiras para construir estes navios-sonda que a Sete Brasil alugaria à Petrobras. Este esquema permitiu fluir rios de dinheiro de corrupção e criava um cartel para furar outro como disse Barusco em sua delação.
Não só de pré-sal parece ser o interesse imperialista mas também de sustar o desenvolvimento de uma empresa que desafiasse o mercado monopolista de SBM, Schlumberg, Haliburton,Transocean, etc. Esta sim seria uma verdadeira “global player” brasileira que permitiria a André Esteves oferecer sondas a outros países furando o domínio monopolista. Talvez por isto um banqueiro bilionário foi parar atrás das grades.
Voltando à SBM, os donos da SBM se confundem com os donos das sondas prejudicados pela criação da Sete Brasil.
Os maiores acionistas da SBM são: Hal Trust da Holanda ligado à Philips e o maior fundo de investimentos do mundo, o norte-americano Blackrock. A Blackrock sozinha tem ativos de 4,3 trilhões de dólares, mais ou menos o equivalente ao PIB do Japão, ou dois Brasis. A Blackrock, gigantesca como é por sua vez é a maior acionista das seguintes empresas segundo a inglesa Economist: Shell e Exxon (altamente interessadas no petróleo brasileiro), do banco JP Morgan, da gigante General Electric, da Apple e da Google, só isto.
Este “pequeno” interesse tem motivos na Lava Jato. Quem tem dinheiro investido no fundo gigante?
O fundo soberano da Noruega (um dos maiores produtores de petróleo não associados à OPEP) detém 7% dos ativose diversos fundos soberanos de países do Golfo (também produtores de petróleo). Estes países também tem interesse que a Petrobras não se desenvolva.
Investigando um pouco mais a partir de informações das bolsas de valores os maiores acionistas da Blackrock (não quem coloca dinheiro no fundo, mas quem é dono das ações) são o banco americano PNC e os seguintes fundos de investimento: Wellington,Vanguard Group, FMR e State Street.
Estes fundos por sua vez são todos associados em ser donos das gigantes de produção, afretamento e aluguel dos navios-sonda. A maior empresa, a Schlumberg, que tem vários contratos terceirizados com a Petrobras na área de Exploração e Produção (que a Lava Jato não toca) é controlado pelos seguintes fundos segundo o site da bolsa americana NASDAQ: Vanguard Group, Dodge & Cox, State Street Corp e Blackrock.
Sua maior “concorrente” a Halliburton que também tem contratos com a Petrobrás na mesma área de plataformas, e administra para a Agência Nacional de Petróleo do Brasil os registros geológicos de nosso país, é controlada segundo o mesmo site pela mesma Vanguard Group seguido da State Street e outros fundos.
A terceira “concorrente”, segundo a mesma fonte, também tem como seu maior acionista o mesmo Vanguard Group e tem a State Street como quarto acionista, a Baker & Hughes outra “concorrente” é uma associação onde o maior acionista é a Dodge & Cox seguido da Vanguard e State Street como quarto acionista...a Fluor também “concorrente” tem a Vanguard como segundo acionista...
Pelo controle da tecnologia, do pré-sal, por contratos bilionários com o Estado brasileiro se move o imperialismo
Já havíamos afirmado em artigos anteriores neste Esquerda Diário que os interesses imperialistas poderiam confluir imediatamente com o interesse “destituinte” do PSDB e outros setores opositores como Cunha. Porém o andar da carruagem das investigações atinge até mesmo aqueles que eram agentes desta "destituição" no primeiro momento, como Cunha e o próprio Aécio. Isto aponta interesses maiores que meramente tirar o PT, ou meramente abrir o pré-sal.
Onde a Lava Jato foca e onde ela omite que se revela os interesses de alguns dos "donos do mundo" interessados na operação. Daniel Matos, em artigo para a revista Estratégia Internacional, que brevemente será publicada em português, argumenta:
“Os escândalos de corrupção não necessariamente obedecem aos planos da oposição, já que respondem a setores do capital imperialista interessados em deslocar competidores internacionais e nativos para comprar ativos desvalorizados ou estabelecer novos contratos com o Estado. Nestas operações, ainda que o capital imperialista busque aliados internos oposicionistas, o envolvimento da própria oposição nos esquemas de corrupção faz com que todos os partidos dominantes estejam golpeados."
O artigo continua afirmando: "a prisão de presidentes e executivos das maiores construtoras e fundos de investimento do Brasil – e maiores financiadores de campanhas do PT e do PSDB – no escândalo da Petrobras tem por trás o modus operandi do capital imperialista para atingir seus interesses. Escândalos como este – mas também outros como as privatizações dos anos 90 ou o esquema atual de sobrefaturamento no sistema metro-ferroviário do estado de São Paulo sob o governo do PSDB – são parte estrutural do mecanismo de domínio e competição entre os distintos setores do capital financeiro, recorrendo inclusive a complexos sistemas de contra-espionagem corporativas para debilitar (remover) certas redes de empresários “amigos” a favor de outras."
Analisando algo que Youssef diz textualmente em delação que citamos neste artigo, Daniel Matos argumenta: "mudam os governos, mudam os partidos, mudam as empresas, fica o assalto permanente aos cofres públicos e aos recursos naturais do país. Esta é uma fonte de instabilidade política que pode fazer mais grave a crise de representatividade atual que cruza o país, já que utiliza o poder judiciário como árbitro, desgastando o conjunto das instituições.”
Esta primeira investigação inédita que conduzimos neste artigo joga luz sobre alguns dos poderosos interesses envolvidos na Lava Jato e ao contrário de teses simplistas focadas unicamente na destituição do PT ou meramente no pré-sal, parecem indicar interesses mais complexos ainda do que os que já havíamos indicado e constam no artigo citado. A Lava Jato além de atacar o PT, além de debilitar a Petrobras, além de facilitar o acesso ao pre-sal, além de tender a abrir o bilionário mercado de contratos de construção civil pesada no país também parece estar voltada a impedir que um banqueiro brasileiro associado a empreiteiras brasileiras desafiasse interesses monopolistas em um mercado altamente cartelizado dos navios-sonda. Um desafio tecnológico que o imperialismo pareceu não aceitar.
A profunda corrupção da Petrobras sob controle do PT e os poderosos interesses privatistas seja os desenvolvidos pelas mãos do próprio governo, dos tucanos, ou os interesses ocultos que parecem mover a Lava Jato, mostram como as vastas riquezas controlada por esta grande empresa brasileira não pode ser presa nem do "mercado" nem dos cargos comissionados e interesses políticos de um regime político corrupto e verdadeiramente democrático só com os poderosos.
É necessário que os trabalhadores controlem as empresas estatais eliminando todos cargos comissionados,divulgando e publicizando a todos cada contrato, cada operação. Sob o escrutínio de toda a população e controle dos operários estas empresas poderão verdadeiramente e não só na demagogia atender os interesses da população brasileira, como saúde, transporte, moradia, educação. A luta por uma Petrobras segura para trabalhar, livre da corrupção e da privatização é parte de uma luta anti-imperialista que também passa por livrar-nos de um regime político cheio de privilegiados, altos salários para deputados, juízes, funcionários políticos, foros especiais e toda uma série de privilégios funcionais à perpetuação da exploração capitalista pelos "donos do Brasil e do mundo" enquanto o povo padece de epidemias como a de Zika e as consequências da crise.



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